(10 passos para planejar e estruturar um livro: como projetar seu livro, do começo ao fim)
De acordo com Umberto Eco, o planejamento e a estruturação de um livro deve começar pela IDEIA seminal[1] (a representação mental de algo concreto, abstrato ou imaginado)[2] sobre a qual você quer escrever, e que pode surgir antes mesmo que você pense em escrever um livro.
O método que defendemos também começa com essa ideia inicial. A ideia é o componente mais importante do projeto de elaboração de um livro (independentemente da forma como ela tenha surgido, se por insight, brainstorming, anotação antiga, dica de um amigo, observação de um fato etc.).
Somente após organizar as ideias de forma planejada é que os escritores iniciantes passam a estar com as mãos e o espírito livres para a fase de criação de suas obras.
Lembramos que nada do que é definido na etapa de planejamento precisa ser definitivo, mas é importante ser estabelecido. Não ignore a etapa de planejamento! Ela é importantíssima para colocar o projeto do seu livro na direção correta, para deixar claro o caminho que você deve seguir.[3]
Ter um filho, plantar uma árvore e escrever um livro
Nesse sentido, acreditamos que, assim como plantar uma árvore ou ter um filho, escrever um livro é um projeto (pessoal) que demanda planejamento e paciência para vê-lo crescer e se desenvolver.[4]
Ou seja, é um projeto pessoal, mais, ainda sim, é um projeto[5] (com início, meio e fim) e, por isso, podem ser adotadas algumas das regras e procedimentos próprios de um projeto teórico/científico, como por exemplo, a escolha do público-alvo, os objetivos a serem alcançados os prazos a serem cumpridos etc.
Assim, podemos começar por tratar a ideia de escrever um livro como sendo um verdadeiro projeto pessoal, e inseri-lo dentro de um planejamento, onde vamos utilizar um plano de ação para criar oportunidades de realização, estabelecendo objetivos, planejando recursos, estipulando entregas etc.
Com esse intuito, podemos utilizar a literatura específica para criar um projeto literário de um livro fundamentado na premissa de que “o início de qualquer projeto se constitui de uma IDEIA para a solução de um PROBLEMA e a obtenção de uma OPORTUNIDADE percebida” (grifo nosso).[6]
A partir dessa premissa, já temos os dois primeiros passos a serem definidos e estruturados, juntamente com os demais que antecipamos abaixo de forma resumida:
Os dez passos para planejar e estruturar um livro
1 – Defina a ideia inicial;
2 – Reconheça o problema e perceba a oportunidade;
3 – Adote um plano de ação;
4 – Identifique os principais elementos que antecedem a estrutura;
5 – Transforme a ideia em objetivos e metas;
6 – Crie e caracterize os personagens;
7 – Elabore uma sinopse para os leitores;
8 – Estabeleça a estratégia de condução do projeto literário;
9 – Escolha o ponto de vista e o discurso narrativo;
10 – Planeje e estruture a construção da história.
Para começar é preciso ter uma ideia e “querer muito” transformá-la em um livro. Enfatizamos a necessidade do desejo (o querer muito) porque não basta sentar-se em frente a um computador e começar a escrever tudo o que lhe vem à cabeça. Isso ajuda, mas não é suficiente. Basta apresentar-se como candidato(a) a escritor(a) que já surgem os primeiros grandes desafios ao processo criativo.
Passos 1 e 2
Começamos a enfrentar os desafios pela IDEIA, o PROBLEMA e a OPORTUNIDADE (passos 1 e 2) porque, além de representarem a base conceitual de um projectus (um plano para realizar algo no futuro), também guardam correlação com a técnica de storytelling, onde se reconhece a existência de um problema e se apresenta um método que vai levar à solução esperada (nesse caso, o livro pronto).
Note que o simples fato de apresentarmos uma IDEIA inicial, a ser desenvolvida ao longo de uma narrativa[7], fará com que os autores iniciantes sejam levados a reconhecer que também estão diante de um PROBLEMA (como desenvolver a ideia visando transformá-la em um livro), e que encarar o desafio de buscar a solução poderá resultar em OPORTUNIDADES, tais como: publicar um livro, ser rico e famoso, ganhar o prêmio Nobel de literatura etc.
Por certo – caro(a) autor(a) iniciante – reconhecer que tem um problema e que pode estar diante de uma oportunidade, vai desafiá-lo e motivá-lo a solucionar um e/ou a buscar alcançar o outro.
Uma vez enfrentados os dois primeiros passos, temos que desenvolver a ideia, em busca da oportunidade. E, para isso, utilizaremos um método que dê solução ao problema.[8]
Passo 3 – Adote um plano de ação
Para o passo seguinte vamos: 3) adotar um plano de ação, que corresponde a um documento estratégico que detalha etapas para cumprir um determinado objetivo. Para o nosso método, recomendamos utilizar o Plano de Ação 5W2H, sigla, em inglês, para uma série de perguntas orientadoras que visualizaremos a seguir. [9]
Lembramos que, ao se questionar sobre “por onde começar?” naturalmente já surgem outras perguntas que são meio que intuitivas para o desenrolar de uma narrativa (onde, quando, como e com quem ocorreu o episódio?). Assim, cabe aos escritores iniciantes responderem a estas e a outras perguntas que estão contidas no plano de ação.

De fato, quando começamos a tratar a ideia de escrever um livro como sendo um verdadeiro projeto, surgem essas e outras perguntas intuitivas, oriundas do Plano de Ação 5W2H[10], cujas respostas são de grande importância para o desenrolar do processo de escrita criativa; e os escritores iniciantes precisam dedicar algum tempo a respondê-las de forma satisfatória.
Uma boa dica nesse sentido é a de tentar compreender melhor, o que exatamente se quer com cada pergunta. No método que adotamos, detalhamos como responder a cada uma dessas perguntas intuitivas, as quais facilitarão a identificação dos elementos que antecedem a estrutura da narrativa (no passo quatro) e de outras informações que precisaremos para demais passos.
Passo 4 – Identifique os principais elementos que antecedem a estrutura
Além dos elementos essenciais da narrativa (personagens, enredo, narrador, tempo e espaço), existem outros que dizem respeito à estória que é narrada. Eles não estão entre os elementos essenciais, ou seja, não participam da estrutura da narrativa, mas sim da essência da estória.[11] Dentre eles, podemos destacar: o gênero, o tema, o público-alvo e o título, que antecedem a estruturação, porém são de grande importância na fase de planejamento de um livro.
Para identificá-los, podemos recorrer às questões do plano de ação que foram respondidas anteriormente. A partir das respostas obtidas, já é possível estabelecer um assunto geral, um tema sobre o qual você deseja escrever, mesmo que ainda não saiba muita coisa sobre o assunto ou seu desenrolar. Também é importante utilizar as respostas das perguntas intuitivas para identificar a que público-alvo seu texto é direcionado (infantil, juvenil ou adulto, ou mesmo um público leigo ou especializado).
Com um pouco mais de esforço já podemos estabelecer outras informações, tais como o gênero literário e um título para o livro.
Sobre o gênero literário podemos identificar nossa narrativa ficcional como sendo um conto, novela ou romance.[12] Também já vimos como identificar o público-alvo. Restam apresentar algumas considerações sobre o tema e o título.
É importante que se esclareça a diferença entre tema e título (especialmente porque os dois estão entre os cinco fatores que mais influenciam a escolha de um livro pelo leitor).[13] O tema tem um caráter mais abrangente pois é o universo semântico no qual se insere o título e, por conseguinte, o texto. Já o título é uma delimitação do tema, uma síntese da abordagem dada ao texto.[14]
Continua…
No próximo post vamos dar continuidade ao assunto falando sobre os próximos passos…

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Notas
[1] Umberto Eco, citado por Fernando Palácios, s/d, web. In Os 5 passos de Umberto Eco para escrever histórias (ver bibliografia).
[2] Conforme Dicionário online Google (Oxford Languages and Google): ideia significado.
[3] ISZLAJI, Felipe. Como começar a escrever um livro. In Blog Dicionário Criativo (ver bibliografia).
[4] Conforme André Coelho (s/d web).
[5] Parece um tema novo, mas a verdade é que se você parar pra refletir vai perceber que tudo na vida é um projeto para gerir. As pautas do trabalho, o churrasco do domingo, a viagem de férias e até a simples reforma da sala.
[6] Conforme Pereira Filho (2007: 21).
[7] Narrativa: termo geral para “prosa de ficção”. Pode englobar também a história (LEITE, 2007: 86).
[8] Todo método parte de um problema em direção à solução. Método: é um conjunto de atividades sequenciais necessárias, que partem de um ponto A, que é o problema, em direção ao ponto B, que é a solução deste mesmo problema (PORTO, 2021: 5).
[9] As três metodologias mais utilizadas para criar um plano de ação e que podem ajudar no seu processo de decisão são 5W2H, Diagrama de Ishikawa e PDCA.
[10] Os 5 “Ws” e 2 “Hs” do Gerenciamento de Projetos: Why? Who? What? How? When? Where? e How Much? Também conhecidos como perguntas orientadoras ou Plano de ação 5W2H (SELIG, 2008:63).
[11] Conforme Daniel Pinna (2006: 158).
[12] As narrativas em prosa mais difundidas são o romance, a novela, o conto e a crônica, ainda que esta última não seja exclusivamente narrativa (GANCHO: 2006: 5).
[13] De acordo com a 6ª Edição Retratos da Leitura no Brasil (2024), [ver bibliografia].
[14] Conforme Granjeiro (1988, citado por AGUIAR, 2002: 20).
Bibliografia
PALÁCIOS, Fernando. Os 5 passos de Umberto Eco para escrever histórias. S/d, disponível em: https://www.storytellers.com.br/2013/10/os-5-passos-de-umberto-eco -para.html#comment-form. Acesso em dez/2023.
ISZLAJI, Felipe. Sinopse – escreva um parágrafo explicando a história. In Blog Dicionário Criativo Divulgado em 1º de novembro 2017 e disponível em: https://blog.dicionariocriativo.com.br/como-comecar-a-escrever-um-livro/#come%C3 %A7ar-escrever. Acesso em 31//08/2022.
COELHO, André M. 10 passos e dicas para escrever um livro. Divulgado por André M. Coelho no site Palpite Digital e disponível em: https://www.palpitedigital.com.br/ 2011/10/11/10-passos-e-dicas-para-escrever-um-livro/. Acesso em 25/04/2022.
PEREIRA FILHO. Práticas de melhoria do valor no gerenciamento de projetos. Revista Mundo Project Management. Ano 4. Nº 22 – ago/set – 2007.
LEITE, Ligia Chiappini Moraes, 1945 – O foco narrativo (ou a polêmica em torno da ilusão). 10 ed. Série Princípios. São Paulo: Ática, 2007. Disponível no sitio:
PORTO, R. Gastal. Introdução ao Design Sprint (Apostila de Apoio ao Treinamento on-line, módulo: Design Sprint em projetos de Transformação Digital, conteúdo em PDF). Brasília: Escola Nacional de Administração Pública – Enap, 2021.
SELIG, Gad. J. Excelência em Programas e Projetos. Os fatores críticos de sucesso e as melhores práticas aplicadas nas empresas de classe mundial. Revista Mundo Project Management. Ano 4. Nº 20 – abr/mai – 2008.
PINNA, Daniel M. S. Animadas personagens brasileiras: a linguagem visual das personagens do cinema de animação contemporâneo brasileiro (dissertação de mestrado). Rio de Janeiro: Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC, Departamento de Artes e Design, 2006.
GANCHO, Cândida Vilares. Como analisar narrativas. 7ª ed. revista e atualizada. São Paulo: (Série Princípios; 207) Ática, 2006.
AGUIAR, Tarcísia M. T. Títulos, para que os quero? (dissertação de mestrado em linguística). Recife: Centro de Artes e Comunicação, Universidade Federal de Pernambuco, 2002.
Outras referências bibliográficas
RETRATOS DA LEITURA NO BRASIL, Instituto Pró-livro. Foram realizadas edições em 2007, 2011, 2015 e 2019, sendo a mais recente, a 6ª edição de 2024. Disponível em “Plataforma pró-livro” daquele instituto. (https://www.prolivro.org.br/wp-content/uploads/2024/11/Apresentac%CC%A7a%CC%83o_Retratos_da_Leitura_2024_13-11_SITE.pdf).
Por Francisco Hélio de Sousa
fhelios@gmail.com