Os principais termos, conceitos e classificações dos gêneros literários que você precisa saber antes de começar escrever seu livro de ficção.
O que é preciso saber sobre termos, conceitos e classificações dos gêneros literários antes de começar a escrever um livro? Não posso simplesmente sentar e escrever? A resposta é: depende do gênero literário adotado.
Quando escrevi meus primeiros textos não tinha a menor noção de como enquadrá-los nas categorias, gêneros e tipificações literários.
Na verdade, conto, novela, romance, narrativas em prosa, prosa de ficção, para mim tinham o mesmo significado: eram “histórias” contadas por alguém.
Então, somente quando alcancei menção honrosa no primeiro concurso literário de que participei é que descobri que havia produzido um “conto”. E, quando publiquei o meu segundo livro, li na apresentação que se tratava de uma “novela” literária.
Mas, você deve estar se perguntando por que estou mencionando isso, não é mesmo?
Pois digo! É porque acredito que algumas pessoas não escrevem por não saber exatamente onde enquadrar seus textos dentro das teorias de criação literária.
Também porque acredito que isso não deve se tornar uma barreira intransponível ao seu processo criativo de escrita.
Em resumo, apenas comece a escrever, depois você classifica!
A dificuldade de identificar os termos, conceitos e as classificações dos gêneros literários
Para alguns escritores iniciantes talvez não seja tão fácil classificar seus textos nos devidos gêneros literários, no entanto, saiba que essa dúvida não recai somente sobre escritores inexperientes.
Um exemplo clássico, dessa dificuldade para classificar uma obra literária, em especial na sua fase inicial, é o que foi atribuído a “Macunaíma”, o livro atípico do “herói sem nenhum caráter” que não se encaixava bem em nenhuma classificação literária da sua época.
A saber, o próprio autor (Mário de Andrade ) “hesitou muito quanto ao gênero em que o incluiria, tanto que por muitas vezes a ele se referia apenas como livro. Romance lhe parecia inapropriado, Folclore também não (…). Acabou sendo rapsódia. Isto é, uma soma de temas tirados do povo” . [1]
E ele não foi o único. A princípio, Joaquim Manual de Macedo também teve essa dúvida ao declarar por extenso, no prefácio do seu próprio livro (A Moreninha), que titubeou em relação à classificação de sua obra: “Eis aí vão algumas páginas escritas, às quais me atrevi dar o nome de romance”. [2]
Isso ocorre porque quando se fala de gêneros literários outros gêneros textuais costumam figurar no processo de comunicação artística, seja ele falado ou escrito. A suposição básica é a de que sem a existência dos diversos gêneros textuais seria impossível haver comunicação, inclusive na esfera literária. [3]
Com isso, por certo, o(a) escritor(a) iniciante se depara com uma série de termos e conceitos próprios da literatura e que não fazem parte de sua escrita cotidiana.
Classificações dos gêneros literários com relação ao texto ou discurso
Assim, mesmo quando o propósito do(a) escritor(a) iniciante é apenas o de escrever uma “história”, nem sempre ele está familiarizado com alguns dos termos e conceitos que surgem naturalmente no processo de escrita criativa (onde o pensamento é divergente e imaginativo) [4] , tais como: prosa poética, narrativa em prosa, prosa de ficção etc.
Em síntese, para conhecer um pouco melhor esse vasto universo de termos e conceitos, onde se enquadram os gêneros literários, podemos partir do geral para o específico, baseado na linguística textual e nos estudos do discurso.
Por exemplo, podemos começar pela classificação do texto ou discurso em gêneros textuais, tipos textuais e domínio discursivo, e aqui falamos de todos os textos (sejam orais ou escritos). [5]
Nesse sentido, “os gêneros se distinguem por sua função e uso, enquanto os tipos, por sua estrutura e aspectos linguísticos”.[6]
Classificação do texto ou discurso quanto à sua função, uso ou estrutura

Os gêneros textuais e os gêneros literários
Os gêneros textuais se referem a qualquer gênero ligado a texto, eles cumprem funções específicas, por isso representam um vasto número de textos.[7]
Eles são incontáveis e, apenas para ilustrar, variam do simples diálogo informal até as teses de doutorado. Tratam da materialização dos textos em situações comunicativas. [8]
Por conseguinte, nos gêneros textuais cabem de tudo: jornal, bula de remédio, receita, memorando, currículo, notícia, artigos de opinião, monografias etc.
Cabe também um conjunto de gêneros, em especial, que podem ser agrupados sob o guarda-chuva chamado “gêneros literários”, dentre eles: fábulas, contos, novelas, romances, crônicas etc.
Contudo, para o(a) escritor(a) iniciante que quer apenas escrever uma “história”, o mais importante é saber que os gêneros literários estão incluídos dentro dos gêneros textuais . É um grupo constituído por vários gêneros textuais, voltados para a literatura [9] , agrupados no que chamamos de domínio discursivo literário, ou esfera literária. [10]
Ou seja, os gêneros literários são gêneros textuais de forte cunho cultural e artístico, com finalidades estéticas e artísticas.
Após essa explicação sobre os gêneros textuais, precisamos agora identificar os textos (falados ou escritos) quanto aos tipos textuais . [11]
Os tipos textuais e a narração
Os tipos textuais se referem a como os elementos linguísticos estruturais (sintáticos, léxicos, sequenciais ou de composição) se organizam para que o texto cumpra com sua função comunicativa.[12]
Existem poucos, de cinco a dez tipos textuais. No entanto, a produção textual atual continua pautada na tipologia tradicional: descrição, dissertação e narração.[13]
Por conseguinte, a esses tipos são acrescidas outras tipologias, como a exposição e a injunção, para as quais sugerimos aprofundar os estudos sobre suas estruturações e propósitos, visto que aqui nos concentramos no tipo narrativo.
Assim, um texto é classificado como pertencente a algumas dessas tipologias quando há predominância de elementos que os caracterizam. Por exemplo, num conto ou num romance, vamos encontrar, a par das sequências narrativas , responsáveis pela ação propriamente dita (enredo, trama), sequências descritivas (descrições de situações, ambientes, personagens) ou expositivas (intromissões do narrador). [14]
Sob o mesmo ponto de vista, aqui o importante é saber que o tipo textual narrativo é aquele em que se conta um fato, um episódio (real ou fictício), ocorrido num determinado tempo e lugar, envolvendo certos personagens.
Com efeito, todas as vezes que uma história é contada (é narrada), o narrador acaba sempre contando onde, quando, como e com quem ocorreu o episódio.
O Domínio discursivo (literário)[15]
Também separamos o texto ou discurso conforme a classificação dos gêneros por domínio discursivo, que corresponde à esfera social em que foi produzido o discurso/texto. Esse domínio produz os discursos jornalísticos, religiosos, jurídicos, dente outros.
Ou seja, o domínio discursivo configura instâncias que não remetem a um gênero específico, mas que originam e contribuem para caracterizar vários deles. No nosso caso, estamos trabalhando com os gêneros que compõem a esfera ou domínio literário.
Assim, tipo, gênero e domínio discursivo harmonizam-se no texto de maneira que este é escrito sob determinada forma linguística, ou seja, o tipo textual, atende a um objetivo comunicativo e por isso pertence a um gênero, e está compreendido em uma esfera social da qual o gênero faz parte, o domínio discursivo, no nosso caso, o domínio discursivo literário.
Outras classificações dos gêneros literários (ficção e não-ficção)
Dito isso, podemos passar a identificar outras classificações literárias, que vão ajudar os escritors iniciantes a entender alguns termos e conceitos importantes para a sua jornada literária, como por exemplo aquele que separa os gêneros textuais literários dos demais, classificando o texto em literário e não-literário.
Como se sabe, o texto literário tem sua produção baseada na arte (poesia, conto, crônica, romance etc.) e também é conhecido como ficcional.
Por outro lado, o texto não-literário, tem sua produção baseada nas necessidades das pessoas (artigo de opinião, memorando, curriculum, notícia, monografia e outros tipos textuais que não são literários) e também é conhecido como não-ficcional.
Ademais, o importante termo ficção, quando buscado em um dicionário, é conceituado como vindo do latim: fictio, fingir, inventar, criar. Portanto, os textos literários estão relacionados com a criação ficcional. É uma construção que é fruto da imaginação dos escritores, mesmo quando não os inventam, eles os aumentam.
Como se trata de um universo criado, inventado, é comum se afirmar que as obras literárias são obras de ficção. São narrativas de ficção. [16]
Os termos e conceitos literários e a classificação clássica
Além da classificação quanto ao texto ou discurso, também temos as classificações que constituem a base primária da literatura em gêneros, quais sejam: quanto ao ritmo (prosa e poesia) e quanto ao conteúdo histórico (a tríade: lírico/dramático/épico) [ 17] .
A poesia é gênero literário caracterizado pelo uso do verso e da linguagem metrificada (poemas, rimas, repetições de sons e estrofes) e a prosa é o gênero literário que não se vale de versos ou métrica em sua composição.
Para o “contador de histórias”, é relevante saber que os textos em prosa são aqueles construídos em linha reta, organizados em frases, parágrafos, capítulos, partes etc. É onde melhor se enquadram os contos, novelas, romances, e a maioria dos textos que conhecemos.
As epopeias do antigo gênero épico eram textos que costumavam ser cantados em versos [18] , enquanto que as narrativas, mas contemporâneas, geralmente são textos escritos em prosa, daí o termo narrativa em prosa .
Por fim, vamos complementar esse assunto e responder às perguntas iniciais, no próximo post, onde vamos falar da tríade: lírico, dramático e épico/narrativo.

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Notas
[1] Conforme Mário de Andrade (1988: verso da capa).
[2] Conforme Joaquim M.de Macedo (SD: 1).
[3] Conforme Edna Sousa (2003: 26).
[4] Conforme Maria Carnaz (2013: 29)
[5] Conforme B. Marcuschi (2020: 24) citado por Edna Sousa (2003: 32).
[6] Conforme Adriano Costa (2011: 113).
[7] Conforme B. Marcuschi (2008) citado por Laice Dias (2012: 2 passin).
[8] Conforme Laice Dias (2012: 5).
[9] Conforme dicionário, a literatura é a arte de escrever trabalhos artísticos em prosa ou verso. Uso estético da linguagem escrita.
[10] Domínio discursivo configura instâncias que não remetem a um gênero específico, mas que originam e contribuem para caracterizar vários deles, inclusive os literários (MARCUSCHI, 2017: 365).
[11] Na verdade, Tipos textuais, como a narração, descrição, dissertação/argumentação e injunção, (…) tecem a tessitura do texto, ou, nas palavras de Bakhtin, compõem a estrutura composicional do texto aos padrões do gênero (SILVA, 1999 : 14).
[12] Conforme Laice Dias (2012: 6).
[13] Conforme Antônio Marcuschi (2000: 18 apud Adriano Costa, 2011: 108) e Edina Sousa (2003: 13).
[14] Conforme Laice Dias (2012: 7).
[15] De acordo com Marcuschi (2002: 24) citado por Edna Sousa (2003: 42); Marcuschi (2008: 155) citado por Beth Marcuschi (2017: 365) e Laice Dias (2012: 6).
[16] Conforme Olga Kempiska e Roberto Sousa (2012: 50).
[17 ] De acordo com Olga Kempiska e Roberto Sousa (2012: 15).
[18] Na verdade, uma epopeia pode se apresentar tanto em prosa (como as canções de gesta medievais ) quanto em verso (como Os Lusíadas). No entanto, é mais comum apresentar-se em versos cantados (SOARES, 2007: 39).
Referências bibliográficas
ANDRADE, Mário de (1893-1975). Macunaíma: o herói sem nenhum caráter. Texto revisto por Telê Porto Ancona Lopez. Ed. 5ª. Belo Horizonte: Itatiaia, 1988.
CARNAZ, Maria E. A. R. Da Criatividade à Escrita Criativa (dissertação de mestrado em Didática da Língua Portuguesa). Coimbra: Instituto Politécnico de Coimbra, da Escola Superior de Educação, 2013
COSTA, Adriano Ribeiro. Gêneros e tipos textuais: afinal de contas, do que se trata? Revista Prolingua – ISSN 1983-9979, v6, n. 1 jan-jun de 2011.
DIAS, Laice Raquel. Gêneros textuais para a produção de textos escritos no livro didático . Universidade Federal de Goiás, Anais do SIELP. Volume 2, Número 1. Uberlândia: EDUFU, 2012. ISSN 2237-8758
KEMPISKA, Olga Guerizoli & SOUZA, Roberto Acízelo Quelha. Teoria e Literatura I. v. 2. Rio de Janeiro: Fundação Centro de Educação Superior à Distância do Estado do Rio de Janeiro – CECIERJ, 2012.
MACEDO, Joaquim M. de. A moreninha. Coleção Literatura Brasileira. Ciranda Cultural, (SD: 1).
MARCUSCHI, B. Gênero do domínio literário e midiático no livro didático: aspectos da produção textual. Revista do GELNE, [S. l.], v. 10, n. 2, p. 20–25, 2017.
SILVA, Jane Q. G. Gênero Discursivo e tipo textual. In Revista Scripta. Belo Horizonte: Ed. PucMinas, V. 1, n. 1, 1999, pp. 87-106.
SOARES, Angélica. Gêneros Literários. 7 ed. São Paulo, (Série Princípios; 166) Ática. 2007
SOUZA, Edna G. Dissertação: gênero ou tipo textual? (Dissertação – Mestrado em Linguística). Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 2003.
Por Francisco Hélio de Sousa
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