Os critérios clássicos de classificação dos gêneros literários que o contador de história precisa conhecer.
A classificação dos gêneros literários mais comum, e conhecida até mesmo pelos escritores iniciantes, é aquela que constitui a base primária da literatura em gêneros e a divide em duas, quais sejam: quanto ao ritmo (prosa e poesia) e quanto ao conteúdo histórico (a tríade: lírico/dramático/épico).[1]
O primeiro critério clássico para a a classificação dos gêneros literários
No que tange ao ritmo, temos que a poesia é gênero literário que se caracteriza pelo uso do verso e da linguagem metrificada (poemas, rimas, repetições de sons e estrofes), conforme vimos no post anterior.
Por outro lado, entende-se por prosa o texto que não se vale de versos, ou métrica, em sua composição.[2]
Nesse sentido, para o(a) escritor(a) iniciante que deseja apenas escrever a sua primeira “história”, é relevante saber que os textos em prosa são aqueles construídos em linha reta, organizados em frases, parágrafos, capítulos, partes etc.[3] É onde melhor se enquadram os contos, novelas, romances e a maiorias dos textos que conhecemos.
No entanto, nada impede que os autores possam se valer da mescla de gêneros para composição de sua narrativa, podendo o mesmo texto literário apresentar-se “sem um ritmo marcante” (prosa) ou com texto em poesia, “com ritmo marcante“. Lembrando que entende-se por ritmo a repetição de certos elementos a intervalos mais ou menos regulares.[4]
Conforme se verá mais à frente, nas epopeias do antigo gênero épico[5] os textos eram frequentemente cantados em versos.[6] já as narrativas geralmente são textos em prosa, daí o termo narrativa em prosa.
O segundo critério clássico para a classificação dos gêneros literários
Para adentrar no segundo critério clássico para a divisão do universo da produção literária em gêneros precisamos recorrer ao que foi descrito pelos pensadores gregos.
Na Grécia antiga, Platão e Aristóteles fizeram as primeiras tentativas de organização e desde então a literatura tem sido classificada por gêneros quanto ao conteúdo histórico.
De acordo com esses pensadores, a classificação inicial passa por três gêneros literários básicos: o lírico, o dramático e o épico[7].
Os gêneros lírico, dramático e narrativo
O gênero lírico está relacionado com versos e é focado em transmitir emoções, sentimentos, sensações e impressões pessoais (poesia, haicai, hino, sátira etc.). A obra lírica é composta para o canto ou para ser musicada[8]. Já o dramático é um gênero teatral, em prosa ou em versos, direcionado aos espectadores (tragédia, comédia, farsa, auto etc.). É um gênero literário concebido para ser encenado, no palco do teatro, por atores e atrizes[9].
Por sua vez, os épicos foram, historicamente, as primeiras modalidades de narrativas. Épicos eram as antigas epopeias e odisseias, que eram textos escritos em versos para exaltar os heróis e que foram perdendo força e dando lugar aos novos textos narrativos.
O gênero épico, das epopeias atribuídas a Homero, corresponde a um tempo anterior ao da consciência individual e narrava a grandeza de heróis, os símbolos e o destino uma coletividade.[10] Já o Gênero narrativo nasceu para narrar os conflitos entre os indivíduos e o mundo e entre os próprios indivíduos, que não eram grandes heróis, reis ou pessoas famosas, mas, mesmo assim, queriam contar suas histórias.[11]
Assim, com o passar do tempo, essa tradição clássica de divisão da literatura em três gêneros passou por atualizações e o gênero épico perdeu sua força, pois se desdobrou em outro gênero literário: o narrativo, que possui forte vinculação com vários tipos ou gêneros textuais.[12]
De acordo com essa corrente, o gênero narrativo é uma variante do gênero épico, onde se enquadram as narrativas de ficção, tais como os contos, novelas, romances, fábulas etc.[13]
Utilizando a “história” como critério para classificação dos gênero literários
Assim, todas as vezes que uma história é contada (é narrada), o narrador acaba sempre contando onde, quando, como e com quem ocorreu o episódio. É por isso que numa narração predomina a ação: o texto narrativo é um conjunto de ações.[14]
Contudo, uma classificação mais hodierna e que ajuda bastante aos escritores iniciantes que querem se aventurar a contar suas histórias é a que se dá utilizando como critério a presença (ou não) do elemento “história” na obra literária.
De acordo com essa corrente, as obras literárias nos oferecem uma história, donde se admitir que o elemento história é um dos aspectos básicos da literatura.[15]
Por isso, é possível fazer do elemento história (em geral também designado pelos temos enredo, trama, intriga) um ponto de referência para a classificação dos textos literários em gêneros.[16]
Assim, essa classificação utiliza os mesmos gêneros literários clássicos, porém os divide em textos “com” e “sem” história.[17]
Então, por esse critério, o texto lírico não dispõe de história. Ou seja, no gênero lírico não temos uma história sendo contada! Quando dispõe de história, o gênero poderá ser o dramático ou o narrativo.
Por sua vez, no gênero dramático a história é apresentada sem mediação, ou seja, diretamente nos diálogos desenvolvidos pelos personagens (sem a presença de um narrador).
Finalmente, no gênero narrativo a história é apresentada ao leitor através da mediação de um narrador, ou seja, aqui temos a figura do contador de histórias.
Seja um bom “contador de histórias”
Veja que, para conhecer os gêneros textuais e os tipos textuais ou mesmo os textos não literários, nós precisamos estudar linguística ou recorrer a um professor de português.
Da mesma forma, para escrever poesias ou textos teatrais (líricos ou dramáticos), muitas vezes precisamos recorrer a um professor de letras, literatura ou mesmo de teatro.
No entanto, para escrever uma narrativa de ficção (seja um conto, novela ou romance), só precisamos ser bons contadores de histórias.

Quer saber como escrever seu primeiro livro de ficção utilizando noções de planejamento?
Então, acesse o curso Meu _ Sonho_Meu_Livro e tire o seu livro de ficção do campo das ideias para materializá-lo no papel ou na tela.
Ou adquira o livro digital Guia Prático Meu Primeiro Livro, para saber como escrever um conto, novela ou romance.
Notas:
[1] Conforme Olga Kempiska & Roberto Sousa (2012: 15)
[2] Conf. Edital Concurso de Contos Terracota/Fantasticon-2013.
[3] Conforme Luiza Brandinho (S/D – ver bibliografia).
[4] De acordo com Olga Kempisca e Roberto Sousa (2012: 66).
[5] A forma épica de narrar, tem nas epopeias de Homero (meados do século IX a.C.) – a Ilíada e a Odisseia – as suas primeiras manifestações. Nelas situam-se também as fontes do gênero narrativo (SOARES, 2007: 39).
[6] Na verdade, a epopeia, que reúne mitos, heróis e deuses, pode se apresentar tanto em prosa (como as canções de gesta medievais), quanto em verso (como Os lusíadas). No entanto, é mais comum apresentar-se em versos cantados (SOARES,2007: 39).
[7] Conforme Regiane Porrua (2011: 51).
[8] De acordo com Dicio – Dicionário Online de Português.
[9] Conf. Edital Concurso de Contos Terracota/Fantasticon-2013.
[10] A epopeia que, segundo Lukács, corresponde a um tempo anterior ao da consciência individual e, portanto, voltado para o destino de uma coletividade, não se manteve em nossa época, que se caracteriza sobretudo pelo individualismo e pelo investimento nos domínios do inconsciente humano (SOARES, 2007: 42).
[11] O romance vem a ser a forma narrativa que, embora sem nenhuma relação genética com a epopeia, a ela equivale nos tempos modernos. E, ao contrário da epopeia, como forma representativa do mundo burguês, volta-se para o homem como indivíduo (SOARES, 2007: 43).
[12] Conforme Eduarda Raminhos (2018: 4).
[13] Como se trata de um universo por assim dizer inventado(onde, portanto, personagens, tempo e espaço são também inventados), é usual e correto afirmar que as obras literárias constituem ficção (KEMPISKA & SOUZA, 2012: 50).
[14] Conf. MUNDOVESTIBULAR.com.br. Narração – Teorias e Textos.
[15] Conforme Foster (1969: 32) apud KEMPISKA & SOUZA (2012: 49).
[16] De acordo com Olga Kempiska & Roberto Sousa (2012: 50).
[17] Conforme Olga Kempisca e Roberto Sousa (2012: 66).
Bibliografia:
BRANDINO, Luiza. Prosa. Divulgado In Mundo Educação. Disponível em: https://mundoeducacao.uol.com.br/literatura/prosa.htm. Acesso em 08/05/2022.
KEMPISKA, Olga G. & SOUZA, Roberto A. Q. Teoria e Literatura I. v.2. Rio de Janeiro: Fundação Centro de Educação Superior à Distância do Estado do Rio de Janeiro – CICIERJ, 2012.
PORRUA, Regiane P. D. Literatura. Escola Técnica Aberta do Brasil (e-Tec Brasil). Instituto Federal do Paraná. Curitiba: e-Tec Brasil, 2011.
RAMINHOS, Eduarda Azevedo. Gêneros literários Dramático, Épico, Narrativo e Lírico. Postado em 2018. Disponível em: https://docplayer.com.br/27851335-Generos-literarios-dramatico-epico-narrativo-e-lirico.html. Acesso em 05/05/2022.
SOARES, Angélica. Gêneros Literários. 7 ed. São Paulo: (Série Princípios; 166) Ática. 2007.
Outras referências:
DICIO (plataforma ) – Dicionário Online de Português: O lírico é repleto de sentimento, sentimental. É composto para o canto ou para ser musicada: obra lírica. (https://www.dicio.com.br/lírico/).
Edital Concurso de Contos Terracota/Fantasticon-2013 – Literatura Fantástica: Caminhos do Fantástico, regulamento divulgado no site da Terracota Editora: http://www.terracotaeditora.com.br/REG_CAMINHOS_DO_FANT_2013.pdf. Acessado em jun/2013.
MUNDOVESTIBULAR.com.br. Narração – Teorias e Textos. In Mundo Vestibular. (https://www.mundovestibular.com.br/estudos/portugues/narracao-teorias-e-textos). Acesso em 23/12/2013.
Por Francisco Hélio de Sousa
fhelios@gmail.com