Ou melhor, qual o número de páginas que deve ter um livro de ficção?
Saber quantas páginas deve ter um livro é uma dúvida recorrente entre os escritores iniciantes, em especial entre aqueles que ainda não estão familiarizados com algumas particularidades das obras literárias ficcionais[1], em especial os contos, novelas e romances.
De fato, a reação mais imediata a essa pergunta bem que poderia ser responder prontamente: “- Depende!”
Ou seja, na maioria das vezes vai depender da destinação que se pretende dar ao texto. Se for para inscrever seu livro em uma coletânea, em um concurso de literatura ou mesmo para atender a um edital de fomento à escrita, o texto original deve ter o número de páginas que o instrumento, certame ou edital prescrever.
Às vezes, a própria inscrição nesses eventos já prevê em seus documentos, além da quantidade de páginas, o tipo e o tamanho da fonte, as margens, entrelinhas etc.
Como se sabe, alguns desses gêneros literários, como a novela e o romance são mais longos e, por consequência, ocupam páginas e mais páginas…
Assim, dos três gêneros literários mencionados, acreditamos que a dúvida, na verdade, recai principalmente sobre os contos literários[2].
Então, na verdade, a pergunta deveria ser:
– Quantas páginas deve ter um livro de contos?
E, neste caso, ainda temos que identificar se estamos falando da quantidade de páginas escritas/digitadas ou das páginas do livro, após sua revisão, ilustração, formatação, diagramação e até publicação.
Assim, para obter uma resposta mais satisfatória, precisamos entender melhor o que é o conto literário!
O conto e suas poucas páginas concisas
O Conto é uma narrativa ficcional breve que aborda, com densidade e concisão, um único conflito.[3]
Em suma, entende-se por conto a forma narrativa, em prosa[4], de menor extensão (no sentido estrito de tamanho). Entre suas principais características estão: a concisão, a precisão, a densidade, a unidade de efeito ou impressão total.[5]
Portanto, como o próprio nome já diz, é o ato de contar uma história, ou seja, narrar[6], em prosa (daí o termo narrativa em prosa)[7], uma pequena história com poucos personagens.
Escritores que começaram por escrever poucas páginas
Só para exemplificar, há escritores que se especializaram em escrever contos (como os Irmãos Grimm), e há outros que começaram com pequenos contos e utilizaram a prosa curta para se projetarem como notáveis escritores de novelas e romances.
Assim fez Mário Vargas Llosa (Prêmio Nobel de Literatura de 2010), quando ainda era um aprendiz de escritor e enviou seus contos a um concurso de literatura, iniciando sua vida literária com a obtenção desse prêmio por um punhado de contos ásperos publicados sob o título de “Os chefes”.[8]
Dentre outros escritores que fizeram essa caminhada aos poucos em direção à prosa larga, podemos citar Fernando Sabino. Seu primeiro trabalho literário foi um conto. “Uma Ameaça de Morte, foi um conto policial publicado numa revista da Polícia Mineira”.[9]
Nesse sentido, Lima Barreto, autor do romance “Triste fim de Policarpo Quaresma”, também escreveu vários contos, dentre eles “o homem que sabia javanês”, com pouco mais de dez páginas.[10]
Mas, voltando ao assunto, quantas páginas deve ter um conto?
Os primeiros registros por escrito dos irmãos Jacob e Wilhelm Grimm, eram narrativas orais que ganharam formato definido, contos de fada de dez páginas com tom educativo para o público infantil, com o qual são conhecidos mundo afora até hoje.[11]
As histórias de Van Horn (Disney comics) costumam ser curtas, na maioria das vezes não passando de dez páginas e podem tratar de temas fantasiosos ou, mais normalmente, de cenas cotidianas, embora sempre com um toque nonsense e inesperado.[12]
Alguns contos são bem mais curtos, como os de Di Benedetto, alguns com apenas duas páginas(como “Voamos”), a maioria com cerca de dez páginas. O que, por um lado, de Kafka a Cortázar, segue certa tradição moderna de extrema exiguidade, e por outro lado, denota a maestria [exigida pela] história curta – e a síntese significativa [que] é uma arte, se não mais trabalhosa, mais difícil e sutil do que a prosa larga dos romances.[13]
Há outras coisas que podem influenciar o número de páginas finais de um livro, tais como a quantidade de ilustrações, a separação por capítulos, o espaçamento entre linhas, o formato ou tamanho (se é de bolso, tradicional ou grande para melhor visualização de crianças e idosos) etc.
Começando a contar a partir de livros infanto-juvenis
A princípio, podemos começar pela contagem de páginas dos livros infanto-juvenis, à medida que a faixa etária aumenta, a quantidade de palavras segue o mesmo ritmo.
Assim, temos que para uma faixa etária de crianças que começam a ler por conta própria um livro infantil costuma ter cerca de 1000 a 1500 palavras e tais livros têm, em média, 32 páginas (após a formatação, diagramação e ilustração).
Logo após essas crianças mudam para uma faixa etária que alcança as 2000 palavras e assim por diante, até que os livros infantis sejam voltados para crianças de 8 a 10 anos e comecem a se aproximar do que será um livro para adolescentes que, em geral, tem entre 30 e 60 páginas e, nesses livros, já podemos utilizar a separação por capítulos.[14]
A saber, cerca de aproximadamente 10 páginas escritas/digitadas, após sua revisão, ilustração, formatação, diagramação e publicação, podem facilmente ser transformadas em 16, 24, 32 ou mais páginas.
Afim de citarmos uma referência, na prática o mercado editorial oferece alguns parâmetros com base no gênero literário ou na quantidade de palavras.[15]
Assim, considerando o formato tradicional, o ideal é que o romance tenha entre 150 e 300 páginas[16], já a novela seria algo ali no meio, entre o conto e o romance, com até 150 páginas, mais não consenso quanto a esses números.
Preciso mesmo me preocupar com o número de páginas de um livro?
Em síntese, acreditamos que ao invés de se preocupar com a quantidade de páginas, o(a) escritor(a) iniciante deve concentrar seus esforços em obter cada vez mais progresso nas práticas da leitura e da escrita.
Neste sentido, cabe advertir que “sem rotina, não há progresso”, e complementamos: “no pain no gain”.[17]
Dessa forma, para que você venha a se tornar um(a) grande escritor(a) é preciso muita prática e ela vem acompanhada de rotina e disciplina.
Em fim, se você tentar escrever um livro uma vez a cada dois anos e desistir sempre que chegar na décima página, certamente precisará recomeçar a cada nova tentativa.[18]
Então, é razoável supormos que o(a) escritor(a) iniciante desafiado a redigir sobre um tema ficcional, seja capaz de escrever pelo menos dez páginas sobre qualquer assunto, transformando-o em um conto ou utilizando-o como base para uma pequena novela.
Finalmente, após adquirir maior confiança em sua escrita, você poderá se aventurar por narrativas cada vez mais longamente.

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Notas
[1] De fato, por tratar-se de universo por assim dizer inventado (onde personagens, tempo e espaço são também inventados) é usual afirmar que as obras literárias constituem ficção (KEMPISKA & SOUZA, 2012: 50).
[2] Ademais, não há dúvidas quanto à quantidade de páginas quando se fala de fábulas ou de “causos”, que geralmente não ocupam mais que uma página; ou mesmo dos Microcontos, criados para introduzir a literatura em redes sociais (até 140 caracteres).
[3] Conforme Edital XIII Concurso Nacional de Contos de Araraquara (ver bibliografia).
[4] Com efeito, entende-se por prosa texto que não se vale de versos, ou métrica, em sua composição. São aqueles construídos em linha reta, organizados em frases, parágrafos, capítulos…
[5] Conforme Edital Terracota/Fantasticon-2013 (ver bibliografia).
[6] Aliás, narrar é contar um fato, um episódio. Todas as vezes que uma história é contada (é narrada), o narrador acaba sempre contando onde, quando, como e com quem ocorreu o episódio.
[7] A princípio, adotamos aqui o entendimento de Gancho (2006: 5), de que narrativa literária de ficção é o mesmo que narrativa literária em prosa.
[8] Conforme Guillermo Saavedra (2005: 5).
[9] De acordo com Fernando Sabino (2016:171).
[10] Conforme Lima Barreto (2003: 2).
[11] De acordo com Clarrisa Estés. Contos dos Irmãos Grimm (ver bibliografia).
[12] Conforme DENIS. Mestre Disney: William Van Horn (ver bibliografia).
[13] Conforme Antônio Di Benedetto. Mundo Animal e outros contos (ver bibliografia).
[14] Conforme MARTINZ, Juliano. Como escrever um livro infantil (ver bibliografia).
[15] Simplificando: 100.000 palavras = 400 páginas; 50.000 palavras = 200 páginas; 25.000 palavras = 100 páginas, etc.(FARLLEYDERZE, 2020).
[16] Conforme Eduardo Vilela. Quantas páginas deve ter o seu livro? (ver bibliografia)
[17] Tradução livre: nada se consegue sem trabalho (sem dor, sem ganho).
[18] Conforme Ricardo Almeida. Dicas do Clube de Autores para escritores iniciantes (ver bibliografia).
Referências bibliográficas
BARRETO, Lima. O homem que sabia javanês. Projeto editorial e organização de Samira Youssef Campedelli, Coordenação Vivina de Assis Viana e ilustrações de Zeflávio Teixeira. (Série Outras Palavras) 17ª ed. São Paulo: Atual, 2003.
GANCHO, Cândida Vilares. Como analisar narrativas. 7ª ed. revista e atualizada. São Paulo: (Série Princípios; 207) Ática, 2006.
KEMPISKA, Olga Guerizoli & SOUZA, Roberto Acízelo Quelha. Teoria e Literatura I. v. 2. Rio de Janeiro: Fundação Centro de Educação Superior à Distância do Estado do Rio de Janeiro – CECIERJ, 2012.
SAAVEDRA, Guillermo. In Prólogo del texto Los Jefes de Mario Vargas Llosa, Bueno Aires, Alfaguara: 2005 pág. 5.
SABINO, Fernando. O menino no espelho – o que você quer ser quando crescer? Ed. 104ª. Rio de Janeiro: Record, 2016.
Sites ou Blogs consultados
ALMEIDA, Ricardo. Dicas do Clube de Autores para escritores iniciantes. Divulgadas por Ricardo Almeida, em 07/07/2021, no Blog do Clube Autores e disponível em https://blog.clubedeautores.com.br/2021/07/coisas-que-todo-escritor-iniciante-precisa-saber.html. Acesso em 25/04/2022.
BRANDINO, Luiza. Prosa. Divulgado In Mundo Educação por Luiza Brandino e disponível em: https://mundoeducacao.uol.com.br/literatura/prosa.htm. Acesso em 08/05/2022.
DENIS. Mestre Disney: William Van Horn. In A patranha – notícias de Patópolis e do mundo. Divulgado em 14/04/2011 em http://apatranhabr.blogspot.com/2011/04/mestre-diney-william-van-horn.html. Acessado em 03/05/2022.
DI BENEDETTO, Antonio. Apresentação/resumo de Mundo Animal e outros contos. Lançado pela Editora Globo e disponível em https://www.amazon.com.br/animal-outros-contos-Antonio-Benedetto/dp/8525043788. Acesso em 03/05/2022.
ESTÉS, C. Pinkola. Contos dos Irmãos Grimm. Publicado no Blog da Ed. Rocco (https://www.rocco.com.br/livro/contos-dos-irmaos-grimm/). Acesso em 03/05/2022.
FARLLEYDERZE. Como calcular as páginas. In MicroEditora Press. Publicado em 16/11/2020, disponível no sítio: https://microeditorapress.com/2020/11/16/como-calcular-as-paginas/. Acesso em 12/03/2024.
MARTINZ, Juliano. Como escrever um livro passo a passo. Divulgado por Juliano Martins no site da Livraria Corrosiva e disponível em https://corrosiva.com.br/como-escrever-um-livro-passo-a-passo/#crie-personagens. Acesso em 25/04/2022.
VILELA, Eduardo. Quantas páginas deve ter o seu livro? In Eduvilela.com (s/d). Disponível em https://www.eduvillela.com/single-post/2020/11/20/quantas-p%C3%A1ginas-deve-ter-o-seu-livro. Acessado em 12/03/2024.
Outras referências
Conforme Edital Concurso de Contos Terracota/Fantasticon-2013 – Literatura Fantástica: Caminhos do Fantástico, regulamento divulgado no site da Terracota Editora: http://www.terracotaeditora.com.br/REG_CAMINHOS_DO_FANT_2013.pdf. Acessado em jun/2013.
Conforme Edital XIII Concurso Nacional de Contos de Araraquara – Prêmio “Ignácio de Loyola Brandão”, edição 2018. Disponível em: https://www.araraquara.sp.gov.br/governo/secretarias/cultura/EDITALXIIIConcursoNacionaldeContos.pdf. Acesso em 08/05/2022.
Conforme MUNDOVESTIBULAR.com.br. Narração – Teorias e Textos. In Mundo Vestibular. (https://www.mundovestibular.com.br/estudos/portugues/narracao-teorias-e-textos). Acesso em 23/12/2013.
Por Francisco Hélio de Sousa
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